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Rio Maior - Portugal

 As Salinas de Rio Maior


Rio Maior deve o seu protagonismo às Salinas que lhe herdaram o nome. São salinas um pouco diferentes das convencionais salinas marítimas. A proveniência da água salgada vem da terra e não do mar. 



As salinas de Rio Maior, também apelidadas de "Marinhas de Sal", estão localizadas num amistoso vale a pouco mais de 3 km da cidade, e no sopé da Serra dos Candeeiros.





Oito Séculos de História


Pois bem, foi há oitocentos anos, mais propriamente no ano de 1177 que Pero de Baragão (ou de Aragão) e a sua mulher Sancha Soares venderam aos templários, segundo Pinho Leal "a quinta parte que tinham do poço e Salinas de Rio Maior". Esta é a informação documentada mais antiga que até hoje foi encontrada. Contudo, pensa-se que os Romanos e os Mouros já teria descoberto a mina e terão sido os primeiros a desenvolverem as primeiras técnicas de extração.

Nesta altura, o Reino de Portugal já existia sob o domínio de D. Afonso Henriques, que embora não tivesse o reconhecimento da Igreja, havido sido reconhecido pelo rei D. Afonso VII de Leão.

Sabe-se que no final do Século XII já existiria uma exploração nas Salinas. Consta que o poço primitivo teria sido situado mais para norte, denominado de Marinha Velha, e que alimentaria apenas 6 talhos.

O poço actual foi aberto quase que por acaso. Segundo a tradição, uma rapariga pastora que por ali andava com o seu rebanho bebeu água de uma poça, o sabor fortemente salgado foi-lhe desagradável pelo que comentou o seu desagrado com a família. O seu pai e vizinhos apressaram-se a cavar no tal sitio e daí surgiu o actual poço.

A Importância do Sal

O sal na antiguidade era uma substância muito importante no comércio entre os povos, chegando a ser moeda de troca, sendo por esse motivo que hoje chamamos de "Salário" ao pagamento do nosso ordenado mensal. Para além de moeda de troca e de condimento, era também utilizado como método de conserva de alimentos como carne e peixe, e igualmente na preparação de peles e conservação de couros utilizados na produção de objectos. Estas técnicas eram já utilizadas por civilizações muito antigas, anteriores a gregos e romanos, daí a importância da exploração de sal. 

A conjugação da elevada importância económica e excelente localização das salinas de Rio Maior, contribuiu para a inclusão das Salinas no conjunto de privilégios que o rei D. Afonso Henriques atribuiu às ordens religiosas da época, a Ordem de Cister de Alcobaça e a Ordem do Templo, e mais tarde Ordem de Cristo. 


A Safra do Sal

Rio Maior dista uns bons quilómetros do mar. contudo a Natureza encarregou-se de "oferecer" esta dádiva a este lugar. O sal extraído das Marinhas de Sal é proveniente de uma mina de sal-gema, muito extensa e profunda, atravessada por uma corrente subterrânea que alimenta o poço de onde é extraída água "mais salgada que a do mar".


A exploração das salinas fez-se durante séculos com processos rudimentares que se mantiveram até à poucos anos atrás. A água era retirada com dois baldes por meio de duas grandes picotas. Apesar de ser um método introduzido na Península Ibérica pelos árabes, consta-se que antes deles já os romanos exploravam as Marinhas a larga escala.

Esta água é conduzida através de "regueiras", para os talhos onde permanece tranquilamente esperando que o sol faça o seu trabalho de evaporação e deixe a descoberto os cristais de sal. O processo é rudimentar e semelhante ao efectuado nas salinas de mar. Os talhos são feitos de cimento e pedra, de tamanho variado e pouco fundos. O acesso ao talhos é feitos por estreitos carreiros denominados por "baratas".

O sal depois é limpo e colocado em pequenas pirâmides brancas até ser recolhido para ser comercializado. 

Actualmente a água da mina é retirada recorrendo a motores eléctricos havendo capacidade de abastecer 450 talhos. 

Depois de seco, o sal era recolhido e armazenado nas típicas e toscas casas de madeira. Toda a estrutura onde era armazenado o sal teria de ser em madeira para evitar a corrosão acelerada dos metais em contacto com o sal. Para evitar esses episódios, foram adoptadas fechaduras todas em madeira com um funcionamento muito particular. Actualmente existem armazéns maiores e mais sofisticados para fazer esse armazenamento.  A safra do sal dura de Julho até meados de Setembro. Por este motivo, o mês de Setembro será o mês indicado para visitarem as salinas no seu auge.  




O Trabalho dos Marinheiros
Nas salinas de Rio Maior os  trabalhadores do sal são chamados de marinheiros. Até a poucos anos a água do poço era tirada, dia e noite, pelos marinheiros por intermédio de 2 baldes de madeira accionados por duas enormes picotas ou "cegonhas". Era o trabalho mais duro da extracção do sal, uma vez que cada marinheiro que "tomava a vara" tinha de tirar 100 baldes de água, que se designava por "uma pega".

Este era um  trabalho duro e perigoso, pois de noite devido a exaustão era comum o marinheiro cair dentro do poço, e para que não houvessem mortes existia sempre uma escada de madeira no interior para que, depois do banho forçado, o marinheiro subisse e volta-se à "pega". Curiosamente, nessas quedas desastrosas apenas um deles partiu uma perna. Mesmo que não soubessem nadar, não haveria perigo de se afogarem porque as concentrações de sódio são tão elevadas que não permitia que se afundassem na água. 

Numa dessas típicas casinhas de madeira existiria uma taberna. A taberna era uma estrutura muito importante para estes homens durante a lavra do sal, principalmente nas noites de trabalho, em que beber álcool seria um bom "combustível" para combater o frio. Então, o taberneiro apontava numa régua de madeira com cerca de 1 metro de altura e dez a quinze centímetros de largura a conta que cada freguês, desta forma o cliente sabia sempre quando devia e os colegas sabiam quando bebia. O taberneiro recebia o pagamento com sal, no final da lavra.


Constituição Química da Sal-Gema

Diz-se que por um litro de água da mina de sal-gema, obtém-se uma mineralização de 220 gramas de sal e são quase inteiramente constituídos por cloreto de sódio, o qual corresponde a 96% da mineralização total, o que significa que a água do poço de Rio Maior é constituída por cloreto de sódio quase puro. 

Nos nossos dias esta indústria mantém-se e tem acompanhado a evolução dos tempos. Novos armazéns foram construídas e novas técnicas foram desenvolvidas dando origem aos mais variados produtos, que depois são comercializados nas lojas das salinas. 

São nos antigos armazéns que funcionam as lojas de artesanato, lojas de vendas de sal e produtos feitos com sal, restaurantes e cafés. 


Dicas de Viagem
Sugerimos que provem as iguarias de Rio Maior, principalmente as filhoses da "Laurindinha" e café da avó de Inverno sabe muito bem. O frango no sal é outra especialidade gastronómica da região. Beber um café no bar "O Salineiro" debruçado sobre a salinas ficará para sempre na vossa memoria e claro, não se esqueçam de passar na loja "A Picota" e provar o Hidromel de Rio Maior.

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