O Percurso do Vale do Douro
Roteiro para 2 dias
Iniciámos a nossa Rota do Românico pelo Percurso do Vale do Sousa e decidimos continuar percorrendo agora o belíssimo vale do Rio Douro. Serão necessário dois dias para percorrer o Vale do Douro, contudo existe muito mais para ver, fora da Rota do Românico.
O Românico é a primeira manifestação artística de base religiosa que abrangeu toda a Europa, usando as mesmas formas e modelos de arquitetura, pintura, escultura e entre outras artes. Surgiu na Europa nos Séculos X e XI. Em Portugal a implementação deste estilo coincide com a imposição de D. Afonso Henriques como rei de um novo país, o Reino de Portugal. O legado românico pode ser visitado seguindo uma rota definida que se divide em três pequenas rotas, a rota do Vale do Sousa, do Vale do Douro e do Vale do Tâmega.
Por onde começar...
Como viajámos de Sul decidimos começar a Rota em Entre-os-Rios. O Percurso do Vale do Douro está distribuído pelas margens do rio Douro, sendo que parte do percurso é feito pela N222, considerada uma das estradas mais bonitas da Europa.
São 14 monumentos que constituem esta rota que nos vão mostrar o românico no Douro. Muitos dos monumentos estão fechados e para visitar o seu interior na maioria dos casos é necessário marcar visita, contudo, arriscámos e fomos visitando o exterior e com sorte lá conseguimos ver o interior de um ou de outro. Este percurso foi feito num fim de semana, em que tentámos dividir os monumentos pelos dois dias. O percurso tem que ser feito de carro porque de transportes públicos não é possível realizar a visita.
Dia 1
1. Igreja de São Miguel de Entre-os-rios
A Igreja de São Miguel de Entre-os-Rios foi o primeiro ponte de paragem. Voltada de costas para o rio Douro, localiza-se ali solitária no cimo de uma colina rodeada de vinhas. A partir deste local consegue-se uma vista panorâmica sobre o Douro, ou seja, um verdadeiro "Miradouro"!
2. Memorial do Sobrado
O Memorial do Sobrado, tal como outros que fazem parte da rota do românico, foram construídos a propósito da transladação do corpo de D. Mafalda, filha de D. Sancho I para o convento de Arouca. Este é bem menos ornamentado que o Memorial da Ermida, do Percurso do Vale do Sousa.
Estes memoriais foram construídos como referencia à passagem da trasladação do corpo de D. Mafalda quando este foi transportado de Rio Tinto, onde faleceu, para o Mosteiro de Arouca, onde era suposto D. Mafalda ser sepultada.
Olhando de perto!
As duas lajes que compõe este memorial apresentam gravações que nada passam despercebidas. A laje inferior tem uma espada representada, que poderá estar relacionada com a nobreza de D. Mafalda, e laje superior está representada uma cruz dentro de um triângulo, para que não fosse esquecida a fé cristã que D. Mafalda de certa forma representara.
3. Igreja de Nossa Senhora da Natividade de Escamarão
Escaramão é uma aldeia bastante peculiar! "Nada se perde, tudo de transforma" será a frase intemporal que aqui se melhor aplica. Encontrámos reaproveitado este túmulo invertido que atualmente serve de "alminhas" na aldeia.A Igreja de Escamarão, apesar do aspeto maciço das suas paredes, rasgadas por estreitas frestas, os portais não têm colunas nem tímpanos e as suas arquivoltas assentam diretamente sobre pés-direitos, o que revela que esta construção enquadra-se no conjunto de templos edificados segundo modelos do chamado gótico rural. Mas o românico também aqui tem a sua presença. na cabeceira da igreja existe uma janela de expressão gótica decorada com motivos de pérolas de cariz românico. Foi concluída em 1358 e por isso mistura um pouco dos dois estilos.
Conseguimos visitar o interior e descobrimos um segredo!
Num oratório numa lateral do altar encontrámos esta imagem da Nossa Senhora da Lapa, de aparência bastante antiga. Esta imagem pertenceu á família Eusébio de Pereiros (Carrazeda de Ansiães), sendo que a 8 de Dezembro de 2017 alguém que a tivera guardado por 50 anos, decidiu doar a imagem à Igreja de Escamarão. Depois de muitos anos guardada numa casa familiar, finalmente está guardada onde, talvez, pertence estar!
4. Igreja de Santa Maria Maior de Tarouquela
A Igreja de Tarouquela é tudo o que restou do mosteiro de monjas beneditinas que laborou até ao século XVI.
Os cães de Tarouquela...
No portal principal destacam-se as imagens de dois quadrúpedes, guardiões do motivo floral do tímpano, em que das suas mandíbulas pendem figuras humanas. Estas figuras que a população de Tarouquela chamada de "Cães de Tarouquela" são representações destinadas a afastarem o mal (pecado mundano)!
5. Igreja de São Cristóvão de Nogueira
A Igreja de Nogueira incluiu-se no conjunto de edifícios classificados como de românico tardio, embora os vestígios reaproveitados na atual estrutura, como o friso do lado norte da igreja junto à torre sineira, indiquem uma transição entre os séculos XII e XIII.
Este é o portal lateral do qual se destaca pela originalidade da sua decoração, em que duas mãos cerradas colocadas sobre as impostas (arco) seguram uma chave.
Nós decidimos alterar um pouco a direção do percurso até ao próximo monumento da Rota do Românico. Sendo que em Cinfães decidimos "atalhar e subimos um pouco da Serra de Montemuro.
6. Ponte da Panchorra
A Ponta da Panchora une as margens do rio Cabrum, tendo a função de facilitar a mobilidade das populações que naqueles terrenos praticavam a agricultura e necessitavam de passar com gado de um terreno para outro. Aquando a nossa visita começou a chover o que nos impediu de apreciar melhor a ponte e fotografa-la tal como ela merece.
Para chegar à ponte têm que seguir as indicações da rota e também da Praia Fluvial da Panchorra. Ao Chegarem ao estacionamento da praia fluvial, têm que fazer uma pequena caminhada até chegarem à ponte. Com tempo seco será com certeza uma agradável caminhada!
7. Mosteiro de Santa Maria de Cárquere
Santa Maria de Cárquere foi uma agradável surpresa, e de certa forma uma motivação apesar do final de dia chuvoso. A envergadura do complexo monumental do Mosteiro de Santa Maria de Cárquere está ligada ao poder senhorial da família dos Resendes. Aqui também se cruza a historia e a lenda que atribui a fundação deste mosteiro a Egas Moniz, o aio de D. Afonso Henriques, após o milagre da cura das pernas do primeiro rei de Portugal. A torre senhorial e a fresta da capela dos Resendes são o que prevalece da arquitetura românica e que nos chegou quase intacta.
Aqui foi edificado um mausoléu aos Senhores de Resende!
Nas mediações do Mosteiro foi construído um espaço, denominado de Parque do Carvalhal onde existe um parque de merendas e locais onde se realizam celebrações religiosas.
Dica de Alojamento
Como fomos na época das cerejas, optámos por ficar na zona de Resende, mais propriamente em Caldas de Aregos, de forma a aproveitar um pouco mais o Douro e conhecer a pequena vila termal. Escolhemos o Hotel Comercio que se revelou bastante acolhedor.
Cais de Caldas de Aregos |
Complexo das Termas de Caldas de Aregos |
Dia 2
A fachada da Igreja de São Martinho parece uma torre senhorial de um castelo, mas na realidade nada tem haver com funções militares. Esta está edificada num local alto e relativamente fora do aglomerado de casas e desde que foi construído no século XIII até aos nossos dias assume a mesma função, a liturgia. A partir deste local temos uma maravilhosa vista sobre as encostas do rio Douro, carregadas de cerejeiras, para o qual a fachada da igreja se encontra voltada.
9. Igreja de Santa Maria de Barrô
A Igreja de Barrô foi fundada no século XII e por isso já apresenta características românicas tardias e foi dedicada a Santa Maria.
A igreja é de matriz românico, contudo o seu portal revela características protogóticas como é o caso da rosácea e dos capitéis em si, já são de natureza vegetalista e floral. A torre sineira foi já construída no século XIX.
Durante a nossa visita à igreja de Barrô, chamou-nos à atenção a panorâmica sobre o rio Douro. Um dos habitantes da aldeia, convidou-nos a entrar no seu jardim para que pudéssemos desfrutar melhor daquela belíssima vista. De facto ali sente-se o Douro e a quietude do lugar transmite-nos uma paz que acabamos por nos envolver na paisagem e por alguns minutos passamos a fazer parte daquele lugar.
Esta será a paisagem que, na nossa opinião, melhor caracteriza a Rota do Românico do Percurso do Vale do Douro.
10. Igreja de São Tiago de Valadares
A igreja de São Tiago, como o nome indica dedicada ao apóstolo de Cristo, foi edificada em no século XIII, em substituição de um templo anterior.
O Caminho de Santiago...
Encontrámos uma pintura contemporânea dedicada ao peregrinos de Santiago de Compostela, na Galiza. Esta homenagem existe graças ao facto de aqui convergirem três variantes dos caminhos de peregrinos de Santiago, desde o século XII até aos nossos dias. A Igreja de Valadares seria um local de paragem para estes peregrinos vindos do centro do país, e onde eram acolhidos, curados e alimentados.
O Curro de Valadares...
Nem só de românico se caracteriza esta zona do norte de Portugal, encontrámos também outras tradições antigas, que a na nossa perspetiva não fogem assim tanto aos princípios do românico. Um povo antigo de Valadares valorizava o Touro como um animal sagrado. Por sua vez, o Touro foi encarado como símbolo de força e da combatividade e por este motivo eram realizadas lutas entre um herói e o animal em forma de sacrifício para agradar aos deuses. O Touro é um elemento representativo para o românico, afinal os antigos não teriam crenças assim tão distantes uns dos outros quanto isso!
11. Ponte de Esmoriz
A Ponte de engenharia vernacular, tem um só arco de volta perfeita e une as margens do rio Ovil. Esta ponte situava-se no meio de interesses eclesiásticos e senhoriais, que facilitava a mobilidade entre a Casa de Penalva, a Casa de Esmoriz e o Mosteiro de Ancede.
O acesso à ponte é feito a pé. Aconselhamos que estacionem o carro na berma da estrada principal, perto da indicação da Rota do Românico. Seguidamente basta seguirem o caminho empedrado que vos guiará por entre terrenos privados e alguma habitações e então chegaram até à ponte.
12. Mosteiro de Santo André de Ancede
O Mosteiro de Santo André foi entregue aos cónegos regrantes de Santo Agostinho que tornaram Ancede num importante centro económico, cultural e espiritual. A dimensão deste conjunto monástico sugere a sua imponência à época, foram construídos templos em cima de outros mais antigos e o que nos chegou aos nossos dias foi um templo de três naves do final do século XVII.
Aquando a nossa visita estava a decorrer uma cerimónia na igreja e havia algum volume de pessoas, o que impediu que explorasse-mos o edifico. Contudo pensamos que seja possível visualizar o interior das ruínas do mosteiro, acedendo pelo estacionamento da igreja. Nós optámos por estacionar o nosso carro no estacionamento ao fundo da escadaria para o mosteiro. Contiguo ao mosteiro existe uma lindíssima capela barroca, de planta octangular do século XVIII, a capela do Senhor do Bom Despacho.
13. Capela da Senhora da Livração de Fandinhães
Num descampado ergue-se uma misteriosa igreja, aparentemente em ruínas, solitária a qual o antigos chamaram de Capela de São Martinho de Fandinhães. Há informações que referem a tentativa de desmantelamento mas há quem ache que o seu projeto não teria sido terminado, ou seja, o que vemos hoje é o mesmo que existiria no século XIII.
Convento da Alpendroada
Durante o percurso no vale do Douro não tivemos muito tempo para sair um pouco da rota, contudo não deixamos de visitar o Convento da Alpendroada. Trata-se de um convento beneditino, datado do século XI, o mesmo será dizer que a sua existência é anterior à nacionalidade.
Sabiam que?
Na época de D. Afonso Henriques o mosteiro da Alpendorada assumiu grande importância na história, sendo que na biblioteca do mosteiro terão sido guardados documentos importantes do reino!
Atualmente o convento foi convertido num hotel de luxo, em que dos seus jardins recai uma fabulosa vista panorâmica sobre o rio Douro.
14. Memorial da Alpendroada
No Memorial da Alpendroada terminamos o nosso percurso. Acredita-se que este memorial foi construído sob outro contexto que os anteriores da rota. O Memorial da Alpendroada foi, muito provavelmente, a sepultura de alguém nobre que morreu acidentalmente e impedidos de serem sepultados num local sagrado (necrópole) era assim que lhes prestavam homenagem. Não sendo possível de visualizar, sabemos através da literatura que a pedra superior tem nela gravada uma espada, representa sinal de nobreza. Poderá estar ou não relacionado com a figura de D. Mafalda.
Dica de Viagem: O Memorial da Alpendroada não está colocado num local de muito fácil acesso. O que sugerimos é que tentem estacionar nas proximidades e caminhar até ao monumento.
Este artigo foi escrito com base na nossa experiência pessoal e a parte mais histórica foi baseada nas historias que fomos ouvindo dos locais e da informação contida no guia e na aplicação do telemóvel.
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