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Rota do Românico - Vale do Sousa

O Percurso do Vale do Sousa 

Roteiro para 2 dias 

Como somos apaixonados por História e ainda mais apaixonados pelo nosso país, decidimos partir à descoberta da Rota do Românico no norte de Portugal e começámos pelo Vale do Sousa.


O que é o Românico?

O românico é um estilo arquitetónico que surgiu na Europa nos Séculos X e XI, utilizado na construção de igrejas e mosteiros, castelos e pontes. Em Portugal, a implementação deste estilo coincide com a imposição de D. Afonso Henriques como rei de um novo país, Reino de Portugal. Na zona norte do país foi onde se fixaram as famílias nobres que apoiaram D. Afonso Henriques na conquista de território e por esse motivo afirmamos que a fundação de Portugal aconteceu por estas terras. O legado românico pode ser visitado seguindo uma rota definida que se se dividem em três pequenas rotas, a rota do Vale do Sousa, Vale do Douro e Vale do Tâmega.

Uma viagem no tempo...
Nós iniciamos a nossa viagem no tempo pela rota do Vale do Sousa, com 19 monumentos na sua constituição. Como viajámos de sul decidimos começar a rota pelo último monumento, ou seja, pelo fim do que está pré-definido. Muitos dos monumentos estão fechados e para visitar o seu interior na maioria dos casos é necessário marcar visita, contudo, arriscámos e fomos visitando o exterior e com sorte lá conseguimos ver o interior de um ou de outro. 

Este percurso foi feito num fim de semana, tentámos dividir os monumentos pelos dois dias. O percurso tem que ser feito de carro porque de transportes públicos não é possível realizar a visita. 

Dia 1 

1.Torre do Castelo de Aguiar de Sousa
O primeiro monumento da rota a ser visitado foi a Torre do Castelo de Aguiar de Sousa. Esta torre fazia parte da linha defensiva do território e fica no alto de uma colina.


Dica de viagem: Aconselhamos que estacionem o vosso carro na beira da estrada principal, junto à placa indicativa, e o percurso seja feito a pé por uma sinuosa estrada pavimentada a lousa e seguir até a torre, ou ao que resta dela.



Não está efetivamente recuperada, mas conseguimos obter uma vista fantástica sobre o Rio Sousa e o seu afluente que naquela zona se juntam.

A rota não são só castelos e mosteiros, existem outros lugares para conhecer, desta forma retomamos caminho e fizemos uma paragem na Senhora do Salto.

Senhora do Salto, Aguiar de Sousa




Reza a lenda que... 
Este lugar deve o seu nome a uma lenda de um cavaleiro que se atirou do penhasco e a senhora do salto o amparou e diz-se que as patas do cavalo estão marcadas na rocha. 

Nós não vimos as pegadas, mas pela paisagem vale a pena visitar o local, de Verão será seguramente possível dar uns bons mergulhos no rio e fazer caminhadas pelo vale.

Dica de Viagem: O carro pode ser deixado num largo grande a cima da pequena aldeia ou pode ser levado até ao largo junto do parque de merendas.

Existe uma capelinha dedicada a Nossa Senhora e um centro de interpretação que promove o concelho de Aguiar da Beira.


Retomámos a estrada principal e seguimos a rota, sendo a próxima paragem no Mosteiro do Salvador de Paço de Sousa.

2. Mosteiro do Salvador de Paço de Sousa
O mosteiro encontrava-se em obras de restauro e não foi possível visitar o interior, contudo tivemos uma belíssima apresentação do monumento e do românico feita pelo senhor que estava na loja da rota na torre do relógio ao lado da igreja. 



Sabemos que este mosteiro foi oferecido por D. Henrique à família de Egas Moniz, em que o próprio construiu na igreja um local que seria o mausoléu da família. Precisamente uma das obras mais relevantes do interior da igreja é o túmulo de Egas, em que nele estão esculpidos alguns episódios da sua vida. Afinal Egas morreu na sua cama devido à sua avançada idade para a época!



A fachada deste mosteiro tem uma mensagem poderosa para quem o visita. Nela está representada a Lua e o Sol, sendo que pode simultaneamente representar a noite e o dia, ou as trevas e a luz, ou o norte e o sul. A igreja segue precisamente esta orientação, a fachada virada para ocidente e o altar para oriente na direção de Jerusalém. 

Na porta de entrada a cabeça de touro representa o poder da fé que ali se praticava e no lado oposto imagem de uma cara com expressão de observação. 


Outro elemento que nos despertou atenção foi o oráculo no lado direito, com a representação de Deus que tudo vê.

 
3. Memorial da Ermida 
O memorial, tal como outros que fazem parte da rota do românico, foram construídos a propósito da transladação do corpo de D. Mafalda, filha de D. Sancho I para o convento de Arouca. D. Mafalda embora tenha sido governadora do Mosteiro de Arouca, veio a falecer no mosteiro de Rio Tinto onde foi sepultada. Mais tarde o seu corpo foi transportado de mula para o Mosteiro de Arouca, que era a sua morada em vida, e em todos os locais por onde o corpo passou, em forma de homenagem a D. Mafalda foram construídos estes memoriais.


4. Ermida da Nossa Senhora do Vale 
A Ermida da Nossa Senhora do Vale foi o próximo monumento a visitar, sendo necessário um pequeno desvio na rota. É preciso ter atenção à localização do monumento para não se sair da rota.


A construção desta ermida poderá datar já do início do século XVI ou no final do século XV. O local escolhido para a construção da ermida, além da fé, estaria também relacionado com a atividade agrícola daquele povo. Desta forma, construir um templo religioso evocando a Nossa Senhora do Vale seria uma atitude bastante auspiciosa.


O que nos chamou mais atenção foi o cruzeiro templário em frente da ermida. Transmite-nos uma ideia de imponência da religiosidade. A fachada da igreja tem ao cimo uma imagem de um rosto, que não está ali por acaso, existe para mostrar que estamos a ser vigiados na fé ou no pecado. Do lado esquerdo está um antigo púlpito em pedra que provavelmente, estará relacionado com as romarias, sendo que nessas ocasiões as missas têm que ser feitas no exterior dado a afluência dos fiéis.


5. Mosteiro de São Pedro de Cête 
O Mosteiro de São Pedro de Cête encontra-se a alguns quilómetros e está plantado num local muito tranquilo que não deverá ter sido escolhido por acaso.


Segundo o que conta a tradição a sua fundação deveu-se a D. Gonçalo Oveques, cujo túmulo se encontra no interior, datado do século X. Para além da Torre, que tem um simbolismo de imponência porque é nela que está o túmulo do seu fundador , este mosteiro possui um belíssimo claustro. Esta igreja sofreu várias obras de reforma e por isso não apresenta motivos originais românicos.


6.Capela de Nossa Senhora da Piedade 
Seguimos caminho e fomos visitar a Capela de Nossa Senhora da Piedade da Quintã. Esta é, de facto, um dos monumentos mais simples que visitámos e despojado de ornamentos,. Contudo, foi-lhe acrescentada uma nave durante a época medieval, onde 30 cachorros decoram o limite superior da nave, (cachorros já de arquitetura gótica).



Dica de Viagem: Na estrada nacional encontramos uma placa de indicação da capela e viramos para uma estrada calcetada. Ao encontrar a segunda placa podemos virar nessa rua que, apesar de muito estreita, o carro passa e pode ser levado até ao largo da capela. As ruas são muito apertadas, mas com precaução dá para circular. 

7. Torre dos Alcoforados 
A Torre dos Alcoforados é uma torre senhorial e tem um centro de interpretação. Não conseguimos visitar por se encontrar fechada e todo o terreno está vedado. 

Também designada como "Torre de Mouros" ou "Torre Alta", acabou por adotar o nome da família de que a tradição tem vindo a conotar como sua fundadora.


8. Mosteiro de São Pedro de Ferreira 
A igreja ainda conserva as ruínas do Galilé e a fachada é diferente do que já tínhamos visto. Em vez de ter os ovos ou meias pérolas a ornamentar, tem um recorte torreado com semelhanças a arte almóada de Sevilha, o que significa que os escultores seriam de origem muçulmana.





Conseguimos ver este mosteiro por dentro, porque encontrámos uma das portas laterais abertas e entrámos. Estavam a senhoras a limpar e a enfeitar a igreja para a Eucaristia de Domingo e pedimos se podíamos ver e com o consentimento das senhoras podemos fotografar a igreja no seu interior e perceber melhor a arquitetura das naves deste tipo de construções.




9. Igreja do Salvador de Aveleda De Ferreira 
Seguimos para a aldeia de Aveleda , onde fomos visitar a Igreja do Salvador da Aveleda. Esta igreja é de arquitetura românica tardia, destacando-se apenas o portal românico.


Nesta localidade existe mais uma pequena capela que não está referenciada, mas que merece a nossa atenção. Não sendo românica tem igualmente o seu lugar religioso e o seu encanto.



10. Torre de Vilar 
A nossa próxima paragem foi na Torre de Vilar. A torre está localizada no parque local com o mesmo nome.


Dica de Viagem: Para visitar podem estacionar o carro junto à entrada do parque, logo a seguir à placa indicativa, e fazer o percurso a pé pelo parque. Em alternativa poderão seguir a estrada e parar na outra entrada junto ao bar do parque. 

Esta torre é o símbolo do poder senhorial na região, com os seus 14 metros de altura. Constitui um estimável testemunho da existência da domus fortis, a residência senhorial fortificada, na região do Vale do Sousa.


11. Ponte de Vilela 
A Ponte de Vilela assegura a travessia do Rio Sousa, ligando as povoações de Vilela e Vilar de Nustre. Possui quatro arcos de volta perfeito, sendo que o rio só atravessa dois. O seu pavimento é perfeitamente empedrado e em excelente estado de conservação.



12. Santa Maria de Meinedo 
De seguida fomos à procura da igreja de Santa Maria de Meinedo. Esta fica praticamente ao pé da estação de comboios de Meinedo, construída num local mais elevado.


A igreja apresenta um estilo "românico rural" bastante acentuado, sendo a sua datação de entre o final do século XIII e o início do século XIV. Apesar da sua datação tardia , o prestígio da igreja é muito grande, sendo que Meinedo foi sede de um bispado no século VI.


Continuando a rota, percorrendo caminhos por entre aldeias, quase como de surpresa estávamos a passar a Ponte de Espindo. 

13. Ponte de Espindo 
O pavimento da ponte é em madeira e atualmente ainda é uma ponte de ligação entre aldeias atravessando o rio Sousa pelo seu único arco.



O nosso objetivo do final do dia era a visita a Quinta da Aveleda. Contudo para fazer esta visita tem que se fazer reserva com antecedência. Nós não conseguimos, mas arriscámos e fomos ver onde era a quinta e conseguimos ir pelo menos à loja da quinta. Ainda deu para ter uma ideia da quinta e dos jardins que são de facto magníficos.

Quinta da Aveleda



Pelo recinto da quinta havia pavões à solta, o que dá de facto um charme ao lugar.







Na loja estão a venda os vinhos produzidos na quinta, bem como doces e compotas, azeite e entre outros produtos tradicionalmente portugueses.




Aldeia de Quintandona 
A Aldeia de Quintandona foi classificada como Aldeia de Portugal pela Associação de Turismo de Aldeia. A aldeia destaca-se pela sua construção característica, usando como materiais o granito, xisto e lousa que a destaca de outras suas vizinhas.




Percorrendo a silenciosas ruas da aldeia conseguimos imaginar o dia-a-dia dos habitantes, que lavariam a sua roupa no tanque comunitário, cozeriam o seu pão no forno e abasteciam-se de água na fonte da aldeia.





Na aldeia existe um centro de interpretação onde estão expostos os produtos típicos da região e onde se fala um pouco da rota do românico.



Dica de Viagem: Para chegar a aldeia, caso a direção seja de Paço de Sousa, aconselhamos que virem na placa de indicação da Torre do Castelo de Aguiar de Sousa, à direita, e a alguns metros à frente virar à esquerda na indicação de Parque. Este pormenor é importante para que o carro fique estacionado no parque da aldeia e que facilmente possa percorrer a pé as ruas estreitas.

Dica de Alojamento
Optámos por um alojamento que ficasse localizado a meio da rota, e por isso escolhemos ficar em Paredes, no Paredes Hotel Apartamento

Dia 2 
E porque a rota do românico nos pode levar a outros lugares, decidimos começar o segundo dia de viagem por visitar o Castro de Monte Mozinho.

Castro de Monte Mozinho, Penafiel



Estas ruínas pertencem a um castrejo de época romana, século I d.C, mas com alguns séculos de ocupação posterior aos romanos e muito provavelmente anterior a eles. Isto porque tanto existe habitações retangulares como circulares, associadas aos povos indígenas da época.






No início do castrejo ainda estão vestígios do que seria um templo romano, talvez fosse a zona do fórum ou apenas um templo particular. Na zona mais alta existe uma zona amuralhada que teria dois torreões e estátuas de guerreiros. Este local seria uma espécie de arena onde aconteciam vários eventos como jogos, assembleias ou até cultos aos deuses.







Dica de Viagem: Visitar o castro de Monte Mozinho têm que fazer um desvio da Rota do Românico e seguir as placas indicativas. O castro tem um centro de interpretação com espólio das escavações e que contextualiza o povoado na região. Nós não o visitámos porque ao domingo encerra, mas as ruínas são de livre trânsito e podem ser visitadas a qualquer hora do dia. Após a visita ao castro de Monte Mozinho retomámos a Rota do Românico onde a tínhamos deixado no dia anterior, na Torre de Vilar. Seguimos então para a Igreja de São Mamede de Vila Verde. 


14. Igreja de São Mamede de Vila Verde 
A Igreja de São Mamede é de arquitetura simples e de construção românica tardia, sofrendo algumas influências góticas. Contudo tem no seu interior uma pintura mural com a representação do santo padroeiro do gado e que dá nome a igreja, de elevada qualidade artística.


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15. Igreja de Santa Maria de Airães 
A Igreja de Santa Maria de Airães, apesar de ser uma igreja românica tardia, tem uma fundação mais antiga. Anteriormente, talvez ali tenha existido um eventual templo primitivo suevo-visigótico ou paleocristão.


16. Ponte de Veiga 
A Ponte de Veiga, que devido a sua reduzida dimensão e por ter uma ponte recente quase colada, passa despercebida. O seu único arco quebrado sobre o rio Sousa liga as povoações de Rio e Cachada.



A fundação desta ponte está ligada ao Mosteiro de Pombeiro, uma vez que os monges possuíam direito sobre as propriedades adjacentes e por esse motivo, muito provavelmente foram eles quem a mandou edificar. 

17. Igreja do Salvador de Unhão 
A Igreja do Salvador de Unhão é, pessoalmente, o exemplar mais bonito deste percurso. Na fachada do portal, destaca-se o tímpano com a cruz templária que permite a entrada de luz para o interior.




No exterior, ao redor da igreja, existem várias cruzes, como simbolismo de que ali é um local sagrado e de oração. Seguir as cruzes é seguir o caminho da fé. Esta tradição do uso destes elementos é transversal a todo o Românico.



De facto, ao lado existe um cemitério que serve de ponto de referência porque a placa indicativa só está visível para quem faz a rota em sentido contrário, por isso deve-se ter atenção. A igreja fica no alto da aldeia, o que pode ser, igualmente, um ponte de referência.

18. Igreja de São Vicente de Sousa 
A Igreja de São Vicente de Sousa é bastante simples, contudo tem uma característica interessante, uma vez que o pórtico sai para o exterior, dando uma ideia de profundidade que personifica a Porta do Céus.









Sabiam que... 
Tal como típico neste tipo de construções, a sul da igreja encontram-se construções monásticas porque é o lado do sol, representando o lado mais quente e com mais luz associando-se à vida e prosperidade? Do lado norte, por sua vez mais frio associado à noite e à morte, é o local dedicado a rituais funerários. Existiu, no lado norte, um cemitério medieval que confirma exatamente este procedimento de sepultar. Os locais foram cuidadosamente assinalados aquando intervenções arqueológicas no local.


19. Mosteiro de Santa Maria de Pombeiro 
O Mosteiro de Santa Maria de Pombeiro é o ex-libris desta rota, contudo de românico tem muito pouco. O Românico está presente apenas numa parte da fachada e nas duas naves, o restante foi alterado durante a reforma dos séculos XVII e XVIII. 



Este edifício representa o poder do clero da época, revelando através desta edificação a sua grandeza. Junto ao mosteiro, existe uma parte do aqueduto, com arcos de volta perfeita, que fazia o abastecimento de água ao mosteiro.






O antigo claustro foi substituído por outro maior e mais ornamentado e com o brasão da ordem de São Bento. Este mosteiro foi parcialmente destruído aquando a invasões francesas.





O seu interior possui um lindíssimo altar de talha dourada como era usual no século XVIII quando a igreja sofreu remodelações. As naves laterais são originalmente românicas.







O seu majestoso órgão do coro é absolutamente fantástico. Neste mosteiro conseguimos uma visita guiada muito produtiva, em que pela primeira vez aprendemos como funciona um órgão deste tipo. Fiquei fascinada com os diferentes sons que este órgão produz.




A partir do mosteiro, pode-se percorrer o caminho à esquerda e vamos ter ao Núcleo Rural do Burgo. Durante o percurso é possível passar por uma fonte muito simples, a fonte de Santa Bárbara, fundada pelos monges, e pelo Seminário de Santa Teresinha, já quase em ruínas. No centro do Burgo destaca-se o Paço de Pombeiro que hoje está convertido numa unidade hoteleira de turismo rural. 




Perto do Burgo existe um percurso pedestre, que se inicia junto ao parque de campismo que passa por uma ponte romana em arco. Não o fizemos porque a chuva não nos permitiu.

Assim terminámos a Rota do Românico do Vale do Sousa!

Este artigo foi escrito com base na nossa experiência pessoal e a parte mais histórica foi baseada nas histórias que fomos ouvindo dos locais e da informação contida no guia e na aplicação do telemóvel. 

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