Uma visita guiada ao Mosteiro de Cós!
O Mosteiro se Santa Maria Cós foi um dos mais importantes mosteiros femininos da ordem de Cister em Portugal. Muito perto deste mosteiro ergue-se o Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça, que em certa parte apoiou as monjas de Cós. O Mosteiro de Cós foi fundado no século XIII, posterior ao de Alcobaça, durante o mandato de Frei Fernando, que patrocinou essa edificação. Contudo, foi no reinado de D. Manuel I que ocorreram as obras de maior envergadura e as que subsistem até hoje, com influencia de alguns trabalhos realizados durante a última metade do século XVII. Só no ano 1530 é que a Ordem de Cister reconheceu o mosteiro e elevado a abadia regular.
Com a extinção das ordens religiosas o mosteiro caiu em mãos de senhores particulares, e parte dos elementos arquitetónicos do conjunto monástico desapareceu, levando-o ao estado de ruína. Felizmente a igreja mantém-se conservada, sendo a única estrutura sobrevivente. As monjas que aqui viveram faziam voto de clausura e sabe-se que chegaram a ser uma comunidade monástica com cerca de 100 monjas.
Como chegar e visitar?
Este magnifico mosteiro fica localizado numa aldeia com o mesmo nome, Cós, a 10 km de Alcobaça. A visita é guiada e gratuita. Ao chegarem ao mosteiro devem dirigir-se à "Adega do Mosteiro" onde um senhor muito prestável faz a visita guiada. Estas visitas não acontecem aos domingos de manhã, por causa da celebração da Eucaristia, e às segundas-feiras.
Só por Curiosidade...
Regra geral a entrada principal de uma igreja é feita pela fachada principal, ou seja, no lado oposto do altar. A entrada principal na igreja do Mosteiro de Cós foi construída a meio da nave da igreja, sendo o corpo do edifício divido por uma estrutura em madeira. Ora, este pormenor arquitetónico deve-se ao facto de ser precisamente uma igreja de um mosteiro feminino. As monjas tinham que estar separadas, quer de elementos do povo quer do próprio padre, então elas estariam no fundo da igreja resguardadas onde ouviriam a homilia por trás do gradeamento de madeira e com uma cortina onde teriam acesso direto ao claustro do mosteiro, não tendo acesso ao resto do corpo da igreja.
1.Dormitórios
Este é espaço do conjunto monástico que ainda é visitável, apesar do seu estado de degradação. Por cima seriam os dormitórios e por baixo seria um espaço onde se faziam trocas entre as monjas e a população. Aqui eram feitas as vendas dos produtos agrícolas cultivados nos terrenos do mosteiro. Ou seja, esta estrutura era uma espécie de loja onde ocorriam as entregas de mercadorias, sendo sempre salvaguardada a identidade das monjas.
A entrada para igreja foi construída a meio da nave e é uma das estruturas mais antigas do mosteiro. Reparem na pia de água benta e na decoração do teto.
3. Nave da Igreja e Altar mor
O interior da igreja foi decorado em estilo barroco cujo altar de talha dourada custou uma fortuna na época. Os caixotões que decoram o teto contêm temas icnográficos da vida espiritual cisterciense.
Esta é a pintura mais valiosa do mosteiro de Cós, é um óleo pintado por Josefa de Óbidos que representa o "Juízo Final". Se repararem na obram estão representados homens comuns e homens religiosos, a interpretação fica ao critério pessoal!
No altar está representada a sagrada família, em que, curiosamente, o menino jesus não é bebé mas sim um menino levado pelas mãos dos seus pais. No cimo temos a representação de Santa Maria, padroeira de todos os mosteiros de Cister. De cada lado da sagrada família, temos duas estátuas de dois santos que estiveram ligados a criação da ordem de Cister, do lado esquerdo São Bento, de vestes pretas, e do lado direito São Bernardo de vestes claras.
Sabiam que?
A origem da Ordem de Cister foi na Ordem Beneditina de Cluny, fundada por São Bento e em que as suas vestes eram pretas. A certa altura os pensamentos foram divergindo e São Bernardo de Claraval foi o impulsionador desse "novo pensamento" e criou a Ordem de Cister que para se distinguirem dos seus irmãos beneditinos, adotaram vestes claras (branco).
Nas paredes laterais do altar mor encontram-se alguns quadros que representam a vida de São Bernardo. Em destaque o quadro de São Bernardo a ser alimentado pelo leite de Nossa Senhora como símbolo de ascensão do conhecimento.
4. Sacristia
A sacristia está "forrada" de azulejos, um conjunto fabuloso que representa igualmente a vida de São Bernardo. Como no barroco tudo tem que ser simétrico, reparem na forma como estão distribuídos os elementos decorativos representados no azulejos.
Não existe uma porta neste local, mas o barroco cria uma só para fazer simetria com a porta verdadeira do lado!
Vestígios de um fresco na antiga sala do capítulo do mosteiro logo a seguir à sacristia. |
5. Coro
O coro era de uso exclusivo das monjas, onde teria existido um órgão que se encontra atualmente no santuário da Nazaré. A monjas viviam em clausura e passariam várias horas do seu dia neste local a orar.
O gradeamento teria uma cortina que salvaguardava a monjas durante as homilias. Para além do teto e dos azulejos que revestem as paredes do coro, é de destacar a porta manuelina.
Ah isso são favas contas!
Pois bem, nos mosteiros já existia democracia ainda antes do resto do mundo saber que essa palavra existia. Sim, as monjas ou monges elegiam o seu líder que iria "governar" o mosteiro durante 3 anos. Os votos eram contados por favas e os candidatos eram igualmente escolhidos por favas. Neste caso concreto, as três monjas que pintassem a fava mais bonita eram as candidatas eleitorais à liderança do convento. As outras teriam que votar usando duas favas pintadas de preto, uma fava pintada de branco que colocariam cada uma em três urnas que corresponderiam a cada uma das candidatas. No final a urna que tivesse mais favas brancas seria a vencedora da eleição e o seu mandato duraria três anos.
Este edifício era efetivamente a adega do mosteiro, sendo que atualmente funciona como centro de receção dos visitantes, onde se devem dirigir quem pretende a visita guiada ao mosteiro de Cós e onde pode adquirir artigos de artesanato, feito a partir do junco, e produzidos em Cós. Podem também ver como se faz.
Cós é uma pacata aldeia, plantada num vale rodeada de granjas e, sem nos apercebermos, estamos perante um verdadeiro tesouro da nossa Historia.
Este artigo foi escrito baseado na nossa experiência pessoal e na visita guiada que nos foi proporcionada.
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