Avançar para o conteúdo principal

Mosteiro de Santa Maria das Júnias - Portugal

Muito mais do que uma aldeia!

Era uma vez uma aldeia localizada no único parque nacional português, o Parque Nacional Peneda-Gerês, onde há muitos, muitos anos atrás os monges cistercienses a escolheram para implementar um dos mais importantes mosteiros da ordem Cister. Pois bem! Contado desta forma parece quase um conto lendário de um livro de histórias qualquer, mas não, esta aldeia existe e merece uma atenção especial. Quando começarem a descer a calçada de pedra arcaica, irão sentir que estão a entrar num território muito especial e que aquele caminho recuará séculos até chegarem ao lugar onde existiu um mosteiro, legado da ordem de Cister em Portugal, de grande importância do ponto de vista religioso e artístico. Aqui estão guardados os segredos de séculos de História. 



Como chegar?

Pitões das Júnias é uma aldeia transmontana, localizada em pleno Parque Nacional Peneda-Gerês muito perto da fronteira espanhola de Tourém, a ultima aldeia portuguesa daquela fronteira. A aldeia em si é um "museu" a seu aberto por isso não é aconselhável circular nas suas sinuosas rua de carro. Por esta razão, aconselhamos que estacionem o vosso carro no parque de estacionamento junto à escola primária e a partir daí percorram as ruas da aldeia. O Mosteiro fica localizado um pouco mais afastado da aldeia, e por isso é natural que encontrem sinalização do mosteiro logo à entrada. Podem visitar o mosteiro e a cascata e, seguir de carro até a aldeia ou ao contrário.




Mosteiro de Santa Maria das Júnias e Cascata de Pitões!

Na entrada da aldeia existem placas que indicam o caminho para o mosteiro, tendo como ponto de referência o cemitério de Pitões das Júnias.


Como chegar ao Mosteiro?
Seguindo as placas indicativas irão percorrer uma estrada empedrada, onde irão passar pelo cemitério de Pitões das Júnias, e ao descer irão encontrar um cruzamento. Tendo em conta a nossa experiência pessoal, aconselhamos que deixem o vosso carro nesse largo e sigam pelo lado esquerdo até ao Mosteiro. Irão descer um caminho em pedra. 







Do Mosteiro á cascata podem aproveitar as marcas do PR-Pitões das Júnias. Devem seguir um caminho, que sobe ligeiramente pelo lado direito, em frente à fachada da igreja do mosteiro.





Dica de Viagem: À medida que vão subindo a encosta, o mosteiro tem que ficar lá no fundo, à vossa esquerda. Muita atenção às marcas que estão pintadas nos penedos, porque a certa altura o trilho não tem "carreiro" irão caminhar por cima do granito. Aproveitem a paisagem que é de cortar a respiração!



Dica de Viagem: Neste local devem abandonar o trilho e seguir as indicações para a cascata. Para chegar ao miradouro da cascata devem seguir o passadiço em madeira. Quando percorremos este trilho, os passadiços estavam um pouco degradados, pelo que devem ter atenção às tábuas danificadas e ter muito cuidado nas que pisam. 













Não seguimos o trilho que leva a cascata porque era Inverno e havia muita água e ficámos com receio de avançar mais. A partir do miradouro era possível ver bem a cascata e ouvir o barulho da sua água a passar com vigor nas rochas. 


Dica de Viagem: Depois de visitarem a cascata devem retomar o trilho e seguir novamente as marcas que vos irão conduzir até ao segundo parque de estacionamento. Devem subir a pequena subida empedrada e logo encontrarão o largo onde deixaram o vosso carro inicialmente. Desta forma fazem uma pequena caminhada circular, com duração de cerca de 1 hora.




Mas porque construíram ali um mosteiro?
Ora tendo em conta a vida cenobítica do rigor de Cister, o silêncio, o afastamento de um povoado, a proximidade de um curso de água e terra suficiente para ser trabalhada para o alimento da própria comunidade religiosa, este lugar de Pitões era o ideal. Relativamente à antiguidade deste mosteiro, existem alguns factos que acabaram por se perder no tempo, e por esse motivo a sua origem rege-se muito por lendas e mitos, que podem ter algum fundamento de verdade.

Contudo, aponta-se a sua fundação para o século XII, talvez 1147, por uma comunidade monástica,  de carácter beneditino, que pertenciam a Ordem de Cluny, criada em Borgonha no início do século X. Mais tarde, houve uma reforma do pensamento monástico, em que alguns monges beneditinos quiseram afastar-se da Ordem de Cluny, surgindo então um novo pensamento (regra) que deu origem  a uma nova ordem religiosa, a Ordem de Cister. Os monges  de Santa Maria das Júnias adoptaram a regra de Cister, no século XIII. Foi a Ordem de Cister que foi modificando o estatuto do mosteiro, o qual sempre teve ligado ao mosteiro beneditino cluniacense de Santa Maria de Oseira, na Galiza. A ordem de Cister deteve este mosteiro até ao lamentável ano de 1834 aquando a extinção das ordens religiosas. 


Sabiam que...

Os Monges de Cister para se distinguirem dos seus companheiros beneditinos cluniacenses, adotaram vestes brancas em contraste com a pretas usados pelos beneditinos. 

Atualmente apenas se conserva a Igreja do mosteiro, sendo que o restante está num verdadeiro estado de degradação. Contudo, vagueando pela ruínas do antigo mosteiro é percetível a organização do edifício, sendo que este foi desde então reaproveitado para outros fins pela população ao longo dos anos seguintes à extinção das ordens religiosas. Junto ao mosteiro corre o Ribeiro do Campesinho, reaproveitado para fazer rodar as pedras dos moinhos construídos pelos monges nas suas margens.





Aqui passa um caminho agrícola que, no passado, representaria outro acesso à comunidade cisterciense. Os monges do Mosteiro de Santa Maria das Júnias viviam essencialmente da pastorícia e do cultivo dos "lameiros" que existiam em redor do conjunto monástico.


Os cães de Santa Maria!

Os cães de pedra que lealmente "guardam" o mosteiro, hoje colocados na entrada do cemitério do mosteiro, poderiam representar os lendários cães que guardavam a imagem de Santa Maria. Segundo a lenda dois nobres cavaleiros que por ali passavam teriam sido surpreendidos por dois cães que estariam estacados junto a uma cavidade de um carvalho ou castanheiro, onde estaria a imagem de uma Nossa Senhora. A postura reverente dos cães levaram os homens a tomarem a mesma posição, que comovidos prometeram construir um templo em honra da imagem da Virgem Santíssima com seu Divino Filho nos braços. Estima-se que estas estátuas tenham estado no altar-mor em veneração à imagem de Santa Maria das Júnias.




Como em qualquer mosteiro beneditino, a estrutura arquitetónica desenvolve-se à volta de duas centralidades, a igreja e o claustro. O mosteiro de Pitões das Júnias não foge a essa regra. 


A Igreja

A Igreja é a parte que ainda se mantém relativo e razoável estado de conservação. A sua arquitetura é primitivamente românica, como denuncia o tímpano da sua fachada. Parte do espólio da igreja do mosteiro está guardado na igreja paroquial na aldeia de Pitões das Júnias, nomeadamente duas estátuas em madeira de S. Bento e de S. Bernardo e a cruz processional de latão, quadrada e tem a marca da Galiza, as vieiras. Como já referimos este mosteiro esteve ligado ao mosteiro de Oseira, segundo a presença de elementos que testemunham essa ligação. Nos altares laterais da nave estão respetivamente representados o brasão do Mosteiro de Oseira e o brasão da Congregação Cisterciense de Castela. É possível observar as alterações arquitetónicas que o templo foi sofrendo, desde a sua origem românica até às alterações efetuadas durante o período gótico, sem se sobreporem um ao outro.



A fachada da igreja é tipicamente românica como denunciam os elementos decorativos da do tímpano e das arquivoltas do pórtico. Curiosamente, numa das laterais da torre sineira existe um relógio de sol.




O Claustro

O Claustro é uma estrutura centralizadora e fundamental de um mosteiro. O que subsiste desta área monacal é muito pouco. Pensa-se que nunca chegou a ser completado o quadrado que caracteriza um claustro. De facto, hoje só podemos ver um pouco do murete norte e três arcos romano-góticos, talvez da transição do século XIII para o século XIV.


Sabiam que...

Os quatro lados de um claustro estão simbolicamente orientados segundo os pontos cardeais. Cada lado representaria as quatro etapas da "leitura divina" ("lectio divina"), sendo um para a leitura ("lectio"), outro para a meditação ("mediatio"), outro para a oração ("oratio") e outro para a contemplação ("contemplatio"). Os quatro lados também serão símbolo dos quatro rios de "água cristalina", rio da verdade, da caridade, da fortaleza e da sabedoria e por isso no centro do claustro existe sempre uma fonte-repuxo de onde brotaria água, representando a fonte da vida. 







Em redor do claustro são visíveis várias ruínas, entre elas a antiga sacristia, a sala do capítulo, as celas, a sala de refeições e a cozinha.






Da cozinha ainda existem vestígios, em que o abastecimento da água era feito por um mini aqueduto proveniente de uma fonte logo a cima do mosteiro.




A chaminé do forno da cozinha ainda se mantém de pé.




O que visitar na aldeia de Pitões das Júnias!

Na aldeia de Pitões das Júnias sugerimos que percorram as silenciosas ruas. Uma vez que a aldeia está inserida na região do Barroso e por sua vez pertence ao concelho de Montalegre, os locais etnográficos estão identificados como "Museu do Barroso". Estes pequenos núcleos etnológicos são a recriação das atividades tradicionais de subsistência do dia-a-dia numa aldeia.




O Moinho




O Canastro (Espigueiro)

O Forno do Povo




A Corte de Boi

A Corte de Boi era onde o povo criava os bois. Atualmente este espaço foi convertido em museu etnográfico onde estão expostos elementos que fariam parte de uma habitação rústica de antigamente. Os objetos que compõem o espólio foram doados pela população. Este espaço não está sempre aberto, supostamente deveria estar aberto aos fins de semana, contudo tentem visitá-lo e pode ser que a sorte esteja do vosso lado.



A Taberna Terra Celta

Em dias de Invernos podem sempre entrar nesta taberna e beber qualquer coisa, vai parecer uma viagem medieval.






A Casa do Preto

Este será um estabelecimento onde se irão perder nos sabores da aldeia. Tudo o que é bom em Trás-os-Montes vende-se aqui.



A Igreja Matriz


A Padaria de Pitões das Júnias

A padaria é outro lugar de perdição de sabores de Pitões das Júnias. Sempre que visitamos a aldeia a segunda paragem obrigatória é nesta padaria. É quase tão famosa como o mosteiro! Para além do pão, recomendamos os bolos Rosca, são maravilhosas. Olhem só para esta montra...






Não resistimos à montra e depois de uma caminhada bem que merecemos um prémio destes!

Ao redor da aldeia consegue-se perceber que a criação do Barroso continua a ser a atividade principal da região.



Trilho de Pitões das Júnias

Para os amantes de caminhadas e de trilhos na montanha, sugerimos que façam o trilho PR - Pitões das Júnias. Este trilho dá volta à aldeia. incluindo o mosteiro e os outros miradouros sobre os pináculos de Pitões. O trilho inicia-se junto ao cemitério de Pitões das Júnias, no local chamado de "Anjo" ponde está localizado um centro geodésico e a partir daí basta seguir as marcações. É um trilho circular, com uma extensão de 3.5km e que se faz em cerca de 2 horas já a contar com a fotografia. Devem escolher um dia sem chuva e sem nevoeiro para usufruírem o melhor possível da paisagem e sem correr perigos. Comida e água devem fazer parte do vosso aprovisionamento na mochila.


Só por curiosidade...

O Topónimo de Pitões, deriva de um topónimo de raiz antiga "Pitt" que significa pontiagudo. Ora "Pitt" significa "pináculos" da montanha que rodeia a aldeia. Contudo mais tarde, já no reinado de D. Afonso III surge o topónimo de "Pitanha", que a sua forma nasalada evolui para Pitões. Como era um local com extensa criação de vacas (barroso) chegou a designar-se de "Vacariça de Pitões". Júnias não se sabe muito bem de onde deriva, talvez o topónimo tenha surgido com a Nossa Senhora, padroeira do mosteiro.




Podem acompanhar os nossos Passeios de Alcatrão através do nosso facebook e instagram!

Em Destaque!

Caminho Português de Santiago - Variante Espiritual

  Variante Espiritual A Variante Espiritual do Caminho de Santiago une o Caminho Português com a Rota do Mar de Arousa e do Rio Ulla, uma rota fluvial-marítima, a qual representa a origem de todos os caminhos. Isto porque, foi por pela foz o rio Ulla que os discípulos hispânicos do apóstolo Santiago transportaram por barco o corpo do apóstolo até Compostela.  1. Onde começa! A Variante Espiritual começa em Pontevedra e termina em Padrón que atravessa a Comarca de O Salnés, sendo a ultima etapa percorrida de barco, o Translatio. Em Pontecessures (Padrón) a variante reencontra o caminho português. Para obter a compostela devem iniciar a Variante de Vigo ou de Porriño, caso contrario apenas vos é dado um certificado do caminho e um carimbo na credencial. A credencial deve ser pedida  Associação Espaço Jacobeus - AEJ  e é a mesma para qualquer itinerário do caminho. Caso pretendam começar de Espanha podem chegar facilmente de comboio a partir do Porto. Etapas Padronizadas: Primeira Etapa:

Castelo Templário e Convento de Cristo - Tomar - Portugal

Visita Guiada ao berço dos Templários em Portugal A cidade de Tomar deve a sua fundação à Ordem do Templo. A sua localização junto à linha defensiva do rio Tejo, foi um fator muito importante durante a reconquista cristã da Península Ibérica.  Dicas de Viagem: O estacionamento disponibilizado para os visitantes do Convento de Cristo é pago e aos fins de semana fica lotado em pouco tempo. Existem alternativas de estacionamento gratuito no centro da cidade, sendo que depois têm que subir até ao castelo a pé. As visitas são gratuitas, todos os domingos de manhã até às 14h, , apenas para residentes em Portugal. Visitar o Convento de Cristo Este roteiro é baseado na nossa experiência pessoal. Felizmente vivemos numa cidade próxima de Tomar e temos a oportunidade de visitar este Convento inúmeras vezes, e sempre que voltamos aprendemos mais sobre o monumento e sobre os templários. Esperamos que se consigam apaixonar pelo Convento de Cristo tal como nós! Quem eram os templários! A Ordem do

Rota da Linha Defensiva do Tejo - Portugal

Na Rota dos Castelos do Tejo Roteiro para 2 dias O rio Tejo é o maior rio português e da Península Ibérica, que nasce em Espanha,  Serra de Albarracim,  e desagua em Lisboa, capital portuguesa. Na época, este importante rio era uma linha de fronteira de território  natural e por esse motivo era importante manter esta região raiana bem defendida e vigiada.  Contextualização Histórica da Linha defensiva do Tejo  A função defensiva foi atribuída a várias Ordem Militares Religiosas. Entre elas estavam os Templários (Ordem do Templo), os Hospitalário (Ordem do Hospital) e, de forma indireta, a Ordem de Avis e Ordem de Santiago, que posteriormente também prestaram o seu apoio na reconquista cristã portuguesa.  São vários os castelos e atalaias que foram construídos ao longo das margens do rio Tejo, o rio mais extenso da Península Ibérica. Esta linha defensiva tinha igualmente a função de defesa de Lisboa, e função de garantia da segurança do recém Reino de Portugal, durante todo o período de

Aldeia Labrega - Galiza - Espanha

  A Galiza em miniatura A Aldeia Labrega é uma recriação de uma aldeia típica galega. Está localizada na Rota da Pedra e da Água, um trilho que faz parte da Variante Espiritual do Caminho de Santiago, muito  de Ribadúmia, na localidade Os Castaños.  Este conjunto escultório representa a vida quotidiana de uma aldeia típica galega do século XX. Aqui encontramos a réplica de uma igreja românica, um pelourinho, um forno, um celeiro (espigueiro ou canastra), animais domésticos e pessoas.  Encontrámos a Aldeia Labrega durante o nosso Caminho de Santiago e depressa nos encantámos com este pequeno miminho. Criámos uma empatia tão gira com o lugar que logo o batizámos como "A Galiza dos Pequenitos"! Outros artigos relacionados: Caminho Português de Santiago - Variante Espiritual O que visitar em Santiago de Compostela Podem acompanhar os nossos Passeios de Alcatrão através do nosso Facebook e Instagram!