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Elvas - Alentejo - Portugal

Visitar a Cidade - Quartel!

Roteiro para um ou dois dias!

Elvas é uma cidade raiana localizada no Alto Alentejo, palco de vários episódios importantes na defesa da nossa fronteira. O facto da cidade ter sido implantada num ponto estratégico, Elvas tem a sua historia marcada pela guerra e pelas sucessivas invasões castelhanas. Por este motivo, Elvas possuiu um vasto património de estruturas de defesa militar, tais como os dois Fortes, o de Santa Luzia e o da Graça, vários fortins, quatro panos de muralha e entre outros edifícios espalhados pela cidade. Segundo a UNESCO, Elvas é o maior sistema de fortificação abaluartada do mundo. No fundo é a expressão da vontade dos portugueses em manterem-se independentes fase aos espanhóis. 

Fortificação de Elvas

O primitivo povoado de Elvas foi conquistado pelos romanos no Século I a.C. e anexado à fortificação de Pax Augusta de Badajoz (Espanha). A sua posição estratégica fez a povoação crescer durante períodos visigóticos e islâmicos. 


Elvas foi conquistada aos mouros em 1230, pelo rei D. Sancho II, ficando assim denominada como a rainha da fronteira mais antiga da Europa, a fronteira entre Portugal e Espanha. 

Arco de Santa Clara

Elvas assumiu um papel defensivo do território português em várias épocas, nomeadamente durante as Guerras Fernandina no Século XIV e durante a Guerra da Restauração (1640-1668). D. Manuel I tornou-a cidade em 1513 e sede de bispado em 1570. No início do Século XVII estava incluída entre as mais importantes cidades do país. 


Elvas é quase tão antiga como a nacionalidade, por isso caminhar pelas ruas de Elvas é um verdadeiro encontro com a historia de Portugal e dos portugueses.

Dicas de Viagem: 

O centro histórico de Elvas tem uma dimensão considerável, mas consegue visitar-se tranquilamente caminhando. Existem vários parques de estacionamento dentro do forte, a nossa sugestão recai no parque junto à Porta de Olivença, uma das portas principais da fortaleza de Elvas. Outra alternativa será o Parque de estacionamento, fora da fortaleza junto à igreja de Nossa Senhora da Nazaré.


Igreja de Nossa Senhora da Nazaré

Elvas tem mais de 14 edifícios religiosos   e  amis de 100 edifícios de caráter militar. A cidade foi considerada cidade militar até 2006, quando se extinguiu o regime de infantaria e o espaço deu lugar ao Museu Militar. Por este motivo a visita a Elvas será demorada e com "pano para mangas". Consideramos que mais importante que conhecer tudo de uma cidade, será conhecer o seu enquadramento na história e perceber o legado que nos deixou. Desta forma, este roteiro será feito mediante a nossa experiência pessoal, e iremos enumerar os locais com maior simbolismo que podem ser visitados num ou em dois dias.


Igreja de São João da Carujeira

Igreja da Ordem Terceira de São Francisco

Dia 1 - Centro Histórico

Vamos começar este roteiro por conhecer o centro histórico da cidade de Elvas, ou seja, a parte dentro da Fortaleza Abaluartada. 

1. Aqueduto da Amoreira

O abastecimento de água foi sempre a maior preocupação na manutenção de uma fortaleza. A água é um elemento fundamental à vida, e em caso de cerco, é necessário garantir a segurança e a sobrevivência do povo. Desde a ocupação islâmica, o povo de Elvas abastecia-se de água recorrendo aos vários poços intra-muros e fontes nas redondezas, que em caso de guerra seriam absolutamente inacessíveis. A partir do século XV houve a necessidade de encontrar uma solução que satisfizesse a necessidades que o aumento populacional exigia. O abastecimento de água provinha do poço da época muçulmana o Poço d'Alcalá. Em 1498 é pedido ao rei D. Manuel I, e este decretou à povoação o Imposto do Real d'Água que recaía sobre os bens de consumo para futuramente ser construído um aqueduto.  

O aqueduto seria obra de Francisco de Arruda já no século XVI, que trabalhava simultaneamente na construção da futura Sé. A obra demorou algum tempo a ser construída, inclusivamente foram aplicados à população mais impostos para fazer fase à despesa da construção do aqueduto, tendo ficado concluído em 1622. O aqueduto transportava ao longo dos seus cerca de 7 km desde de uma nascente em Amoreira até à Fonte da Misericórdia. A obra é de tal envergadura que em alguns locais chega a atingir os 30 metros de altura.  

Fonte da Misericórdia

2. Fortificação de Elvas

A Fortificação de Elvas que hoje conhecemos é fruto das intervenções do século XVII. A fortificação anterior era de origem medieval e tinha realmente sofrido alguns melhoramentos ao longos dos séculos, derivada as várias guerras fronteiriças entre portugueses e espanhóis. A partir do século XVII o equipamento de artilharia europeia estava mais modernizada e as instáveis paredes de construção medieval mostraram-se ineficazes fase aos ataques com artilharia moderna à época. Assim, nasceu um novo modelo de engenharia militar que conferia maior resistência às fortalezas. Esse modelo surgiu em Itálica, na sequencia das guerra de unificação, expandindo-se por toda a Europa, destacando-se a Holanda por ser o país que melhor desenvolveu estas técnicas.  Portugal não foi exceção e teve que atualizar as suas fortalezas recorrendo ao conhecimento técnico de estrangeiros. 

A cerca abaluartada da cidade de Elvas está diretamente relacionada com a guerra da restauração (1641-1668), quando Portugal se vê envolvido numa guerra para recuperar a sua independência de Espanha. Era necessário reforçar a defesa de Elvas, porque esta era a fronteira mais fácil de entrada para se chegar a Lisboa, por esse motivo Elvas é considerada a "Chave do Reino".  É neste contexto que o rei D. João IV pede ajuda a um padre jesuíta holandês Cosmander , que dava aulas de Matemática no Convento de São Domingos em Lisboa, para intervir na construção de uma nova fortaleza em Elvas de acordo com os modelos aplicados no resto da Europa. Assim o fez, inspirado  noutros mestres holandeses pioneiros na criação do primeiro sistema de fortificação holandês, Cosmander vai construir um sistema abaluartado moderno e implacável. 

Porta da Esquina

As muralhas de hoje são um exemplo das originais dessa época, sendo constituída por sete baluartes, quatro meios baluartes e um redente ligados entre si por cortinas, constituindo dozes frentes de muralha. O acesso à cidade é feito por três portas duplas: A Porta de Olivença, a Porta de São Vicente e a porta da Esquina. 

Porta de São Vicente; Porta da Esquina

Só por Curiosidade!

As fortalezas abaluartadas de tradição holandesa, utilizam uma geometria rigorosa, tornando os muros mais resistentes ao ataque de artilharia pesada. As muralhas funcionam como uma camisa que reveste montes de terra, que acabam por amortecer o impacto e minimizar os estragos provocados por um ataque. Outra técnica utilizada era criar condições para que o inimigo conseguisse entrar na fortificação, através da criação de minas no exterior, sendo que através de outras estruturas chamadas contra-minas, os defensores pudessem interceptar o inimigo e aniquilá-lo. Nesta época as guerras eram projetadas na sua maioria por engenheiros, com formação militar. Em toda a fronteira portuguesa, existem fortificações deste tipo, como é o exemplo da Fortaleza de Almeida e a de Valença do Minho. 



Trem - local onde eram fabricadas as armas de guerra. Hoje é o Edifício do Politécnico de Portalegre. 

Cisterna; Fonte dos Cavaleiro

3. Paiol de Nossa Senhora da Conceição

O Paiol foi um dos projetos de Cosmander e foi sempre o local usado para guardar as munições.

Ermita de Elvas, localizada junto ao Paiol, que se encontra do lado direito.

4. Castelo

A origem do castelo de Elvas muito provavelmente será da Idade do Ferro. O castelo foi erguido no ponto mais elevado da cidade, onde os primeiro povoados encontravam refúgio em épocas de conflitos.  Só durante a ocupação islâmica é que a povoação começou a crescer para fora do castelo e houve a necessidade de construir um reduto fortificado em redor  da nova cidade que estava crescer. Mais tarde esse fortificação será reconstruída e melhorada pelos cristãos nos séculos XIII e XIV.

O castelo de Elvas testemunha vários acontecimento importantes da historia do país. É aqui que D. Dinis assina o tratado de paz com o seu filho D, Afonso, e o mesmo acontece com D. Fernando com D. João I de Castela. No castelo de Elvas também se efetuaram várias "trocas de princesas" entre príncipes portugueses e espanhóis. 


Ao longo do tempo o castelo foi perdendo o seu papel defensivo, tendo sido substituído pelo o sistema defensivo seiscentista de Cosmander, levando o castelo ao estado quase de ruinas até ao século XX, época em que foi restaurado.

5. Cemitério dos Ingleses

O pequeno cemitério dos ingleses é o local onde estão sepultados quatro militares ingleses que morreram em Elvas durante as guerras peninsulares (1807-1813). Nessa época foi construído um local para serem sepultados militares ingleses que ali viessem a falecer, que por ser anglicanos não poderiam ser sepultados nas igrejas da cidade.

6. Pelourinho

O Pelourinho é símbolo de autoridade e chega a Elvas no século XVI, tendo sido erguido na Praça Nova, atual Praça da República. O pelourinho atual é uma reconstrução do que seria o original.


7. Igreja de Nossa Senhora da Assunção - Sé de Elvas

A Sé de Elvas começou a ser construída em 1517, segundo o projeto de Francisco Arruda, que simultaneamente estava a trabalhar na construção do Aqueduto da Amoreira. A nova igreja foi evocada a Santa Maria, padroeira das Ordem do Templo e tornou-se na igreja mais prestigiada de Elvas. Abriu ao culto em 1537. Em 1570 esta igreja converteu-se em sé catedral, juntamente com a criação do bispado de Elvas.  

8. Praça da República

9. Casa da Historia Judaica - Antiga Sinagoga

A Casa da História Judaica funciona no local onde se acha que terá sido a Grande Sinagoga de Elvas. À semelhança do que aconteceu em várias localidades alentejana, também em Elvas várias famílias de judeus expulsos de Castela no século XV encontraram refugio. Tudo leva a crer que era neste edifício da Rua dos Açougues que os judeus construíram a sua sinagoga, uma vez que este era o coração da antiga judiaria, a arquitetura do edifício é semelhante à de uma sinagoga, e existe uma fonte de água próxima, fator essencial nos cultos. Outro fator a juntar a esta teoria será ao facto de no século XVI a câmara municipal ter usado este espaço como açougue (matadouro) cujo objetivo seria manchando com sangue um local sagrado para uns e profano para outros. Caso a teoria esteja correta, trata-se da maior sinagoga medieval de Portugal. Os judeus em Elvas tiveram um papel fundamental no desenvolvimento do comércio da cidade. Desde de cedo que os judeus começam a mostrar vastos conhecimentos na área da medicina, muito apreciado para curar as doenças da época. A sua importância acaba por levar a uma proteção régia deste povo.

O atual  espaço está dedicado à preservação do espaço religioso e a manter viva a memoria dos judeus que viveram em Elvas e de certa forma aqui deixaram a sua marca. Não só retrata a historia dos judeus, mas também deste "novos-cristãos", bem como sobre a historia de uma dessas famílias "novas-cristãs", os Correio.Mor, descendentes diretos de Abraham Senior, o tesoureiro real e conselheiro de Fernando e Isabel, os reis católicos de Espanha. Outras famílias também aqui são referidas, tais como os Botafogo e os Orta. 


Família de Novos-Cristãos de Elvas

10. Igreja e Convento de São Domingos

11. Museu Militar

O Museu Militar funciona nas antigas instalações do Regimento de Infantaria e alberga uma magnifica coleção de material militar. A visita dá acesso ao claustro do Convento de São Domingos e permite visitar o Centro Interpretativo do Património de Elvas.


13. Museu de Arqueologia e Etnografia

O Museu de Arqueologia e Etnografia funciona nas antigas instalações da Antiga Manutenção Militar  , tendo inclusivamente servido para armazenar cereais e como e Padaria Militar. A exposição baseia-se na divulgação das tradições e modo de vida do povo da região de Elvas.



Dia 2 - Forte da Graça e Forte de Santa Luzia 

Elvas está ladeada por dois fortes, o Forte da Graça do lado Norte e o Forte de Santa Luzia do lado sul. Estes fortes também fazem parte da estrutura militar seiscentista criada por Cosmander. O Forte de Santa Luzia foi a primeira fortificação a ser construída. 


1. Forte de Graça

O Forte da Graça foi construído posteriormente, em relação aos restantes fortificações. Começou a ser construído em 1763 por Welhelm, Conde de Schoumbourg-Lippe, encarregado do rei D. José para reorganizar o exercito português.  No século XVIII o forte tinha uma potencia inigualável e subsistiu a vários ataques inimigos durante os anos seguintes. Em 1856 foi aqui criada uma companhia de correção, mais tarde um deposito disciplinar onde estiveram vários presos políticos  desde a 1º republica até 1974. 




2. Forte de Santa Luzia

O Forte de Santa Luzia foi construído no contexto da Guerra da Restauração, simultaneamente com a construção da Fortaleza de Elvas. No interior do forte existe um museu que retrata a historia militar de Elvas, e onde estão expostos vários artefatos de guerra que marcaram as várias épocas. 


Dica de Viagem: A visita aos fortes é bastante intensa e é possível que ocupe algumas horas do vosso tempo. Por esta razão sugerimos que reservem um dia ou uma manhã para a visitar as duas "sentinelas" de Elvas.

 

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