Uma visita guiada ao Mosteiro de Santa Maria de Arouca
O Mosteiro de Arouca está entre os mosteiros femininos de maior dimensão e dos mais bem preservados que chegaram aos nossos dias. Contudo, essa integridade não se mantem desde a origem, mas resulta das obras que sofrera, no século XVIII e que acabaram por alterar completamente a estrutura do mosteiro.
O mosteiro foi fundado no século X, em Arouca, sendo inicialmente um mosteiro dúplice, ou seja, receberia religiosos homens e mulheres, regra que manteve até ao século XII. Foi a partir dessa altura que o mosteiro se tornou exclusivamente feminino e passou a seguir a ordem de S. Bento, quando em 1226 adotou a regra de Cister, a qual manteve até à sua extinção.
Entrada para o Mosteiro de Arouca |
O Mosteiro de Arouca era de padroado régio, tendo sido doado em testamento pelo segundo monarca português, o rei D. Sancho I, à sua filha Infanta D. Mafalda, em 1220. Foi a partir deste momento que o mosteiro de Arouca conquistou um lugar de prestigio, tendo como administradora um membro da família real. O mesmo aconteceu com outros mosteiros, nomeadamente o Mosteiro de Lorvão (Penacova) doado por D. Sancho I à sua filha Infanta D. Teresa e o Mosteiro de Celas (Coimbra) doado à sua filha Infanta D. Sancha.
Entrada para o claustro do mosteiro, do lado esquerdo a representação de São Bento e do lado direito a representação de São Bernardo, nos mosteiros de Cister estarão sempre lado a lado. |
Para além da doação, D. Mafalda conseguiu que o seu irmão, o rei D. Afonso II lhe concedesse os direitos reais e a jurisdição da vila de Arouca, rendas da comunidade e padroados de diversas igrejas. Após a morte de D. Mafalda em 1256, seguindo a regra de Cister, a de São Bernardo e de São Bento, o Mosteiro de Arouca chegou a ser um dos mais importantes da Península Ibérica.
Representação da chegada de D. Mafalda ao Mosteiro de Arouca |
Em 1725 um incêndio destrói parte do mosteiro, o que obriga a sua reconstrução e remodelação.
Pintura do Milagre de Santa Mafalda (imagem retirada da internet) |
A nossa visita guiada começa pela a Igreja e termina no Museu de Arte Sacra.
A visita à igreja é livre e gratuita. Na igreja dos leigos, como era designada, encontra-se o túmulo de Santa Mafalda. A entrada está localizada no corpo lateral de igreja, bastante comum em igrejas de mosteiros femininos, uma vez que as mongas teriam que ficar no coro isoladas do padre e de não religiosos que estivessem a assistir à eucaristia. A igreja atual é datada de 1718.
D. Mafalda foi santificada quando em 1616 ao ser aberto o seu sepulcro pelo bispo de Lamego D. Afonso Mexia, o corpo foi encontrado incorrupto. A partir dessa data inicia-se o processo de beatificação da infanta, contudo a igreja católica só reconhece a beatificação em 1792, pelo Papa Pio VI.
Túmulo de Santa Mafalda |
2- Claustro
O Claustro foi das últimas obras de remodelação do mosteiro, sabe-se que aconteceram nos séculos XVII e XVIII e que não foram totalmente concluídas. O claustro dá acesso direto à Sala do Capítulo, à cozinha e aos dormitórios.
O Claustro era o local onde as mongas meditavam, liam e oravam. Seria igualmente o local de ligação entre as várias alas do mosteiro e onde os seus corpos foram sepultados após a sua morte. Estes túmulos encontram-se distribuídos pelos corredores do claustro, devidamente numerados, assegurando a sua clausura eterna.
3- Cozinha
Por baixo da enorme mesa de pedra da cozinha encontra-se uma cavidade que na época seria utilizada para conservar a carne.
4- Sala do Capítulo
5- Coro e Cadeiral
O Cadeiral é a peça central do coro. Construído em madeira de Jacarandá, cada cadeira exibe a sua carranca única. As carrancas, também designada por misericórdias, definiam o lugar de oração de cada monga, sendo esse lugar intransmissível. No Topo das cadeiras existem doze panos com pinturas em tela que representam episódios da vida de Cristo, da Virgem e de Santa Mafalda.
Carranca com óculos |
Olhando para a parte superior do coro, destaca-se o belíssimo órgão da igreja do mosteiro. Este órgão foi projetado, in loco, tendo em conta a dimensão do edifício e o volume do som foi adaptado a essa dimensão. É uma obra de arte do século XVIII, considerado o órgão mais sublime do país. Na época medieval, a musica era uma forma de oração, como se fosse um Hino a Deus. O mosteiro de Arouca tem na sua posse um precioso manuscrito com notações musicais desses cânticos. As letras não poderiam ser muito ornamentadas, segundo a regra de São Bernardo, contudo houve a preocupação da perfeita sonorização das mesmas.
6- Museu de Arte Sacra
O Museu de Arte Sacra está localizado nos antigos dormitórios, não sendo permitida a captação de fotografias. O espólio do museu é de um valor imenso e tem peças únicas e de motivo de orgulho para os arouquenses. De entre as várias peças, destaca-se a urna de Santa Mafalda, em tamanho original, esculpida em madeira.
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